Há cineastas com uma intuição espantosa. Alguns deles têm uma notável capacidade de previsão e conseguem dizer as horas antes que o relógio as dê. Veja-se o caso de John Carpenter e o seu Big Trouble in Little China (1986). O filme foi um fiasco à data da sua estreia, porque o mundo ainda não estava preparado para ele. A síntese de elementos culturais do Ocidente e do Oriente era algo de completamente novo e terá parecido demasiado bizarra aos olhos dos espectadores da altura. Porém, o filme não era um retrato do seu tempo mas do tempo que estava para vir. Os anos foram generosos com o filme e deram-lhe razão. Hoje, numa época de cada vez maior interculturalidade, é uma das obras mais apreciadas do John Carpenter.
domingo, 27 de dezembro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Psycho
Uma das sequências menos apreciadas de Psycho (1960), de Alfred Hitchcock, é a explicação do psiquiatra no final. Quase toda a gente concorda que a sequência é longa e fastidiosa e que o filme estaria melhor sem ela. Porém, nada poderia estar mais errado. A explicação é essencial para a compreensão da história e esclarece muitas coisas que tinham ficado pouco claras, sobretudo para quem vê o filme pela primeira vez. Mas há outra razão, mais importante ainda, para essa sequência. Ela surge estrategicamente colocada entre a captura de Norman Bates e o final na cela, o que permite que o espectador respire de alívio entre esses dois momentos assustadores. Isto demonstra todo o talento de manipulador de Hitchcock. O realizador, grande conhecedor dos princípios dramáticos, compreendeu rapidamente que a atenção do público não é constante e uniforme e que precisa de tempo para recuperar o fôlego.
domingo, 4 de outubro de 2009
Roman Polanski
O caso Roman Polanski é, em boa medida, uma questão de tempo. Não é a mesma coisa decidir um processo destes trinta dias ou trinta anos depois dos factos. O apuramento da verdade torna-se mais difícil, porque a frescura das provas já não é a mesma. E quanto mais a justiça demora, mais graves são os prejuízos para os envolvidos – incluindo a queixosa. Todos concordam, por isso, que o prolongamento deste processo é absurdo e injusto. Só o sistema judicial americano é que teima que não.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Inglourious Basterds
O início de Inglourious Basterds (2009), de Quentin Tarantino, é uma delícia para os cinéfilos. Toda a sequência da casa do lavrador evoca o famoso exemplo da bomba debaixo da mesa que Alfred Hitchcock usava para distinguir surpresa e suspense: haveria suspense se o espectador soubesse de antemão que uma bomba estava prestes a rebentar debaixo da mesa; e haveria surpresa se a bomba rebentasse subitamente, sem que o espectador suspeitasse da sua existência. Mas Tarantino não se limita a imitar o exemplo de Hitchcock e aproveita o melhor dos dois mundos: surpreende o espectador quando revela a bomba (neste caso, a família de judeus) que se esconde por debaixo dos protagonistas; e, a partir desse momento, o suspense cresce até ao insustentável. Mais uma vez, Tarantino não deixa os seus dotes de manipulador por mãos alheias.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
In Cold Blood
In Cold Blood (1966) é um romance genuinamente americano. Não só porque as suas personagens e o seu assunto são americanos, mas também porque apenas um escritor americano poderia criar um livro assim. A escrita de Truman Capote é objectiva e cristalina. Tal como a generalidade dos seus compatriotas, Capote vai directo ao assunto e descreve a realidade como ela é, sem adornos nem juízos de valor. Nada de meias tintas, nada de floreados. É esta limpidez de linguagem que alguns europeus mais presunçosos não compreendem e classificam de simplismo ou superficialidade.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Infamous
Uma das sequências mais notáveis do filme Infamous (2006) é a da festa de Natal em casa dos Deweys. O protagonista Truman Capote aceita o convite com prazer mas a festa começa por ser embaraçosa. Os intervenientes mal se conhecem, têm pouco em comum e não há muito para dizer. Pouco a pouco, a personalidade magnética de Capote começa a dar sinais de vida. Os Deweys deixam-se fascinar cada vez mais pelo paleio do escritor e até o adolescente da casa se junta à conversa dos adultos. Toda esta sequência retrata maravilhosamente a qualidade mais marcante de Capote: o seu carisma. Foi esse mesmo carisma - e não o dinheiro, a chantagem ou a violência - que lhe permitiu, mais tarde, conquistar a confiança do duo de assassinos e aceder ao manancial de pormenores descritos no romance In Cold Blood.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Ansiedade crónica
Se alguém souber de uma solução para esta porcaria da ansiedade crónica, que diga qualquer coisa. Obrigado.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Stephen Fry
A autobiografia Moab is My Washpot é uma excelente oportunidade para descobrir a escrita de Stephen Fry. É uma escrita envolvente e sedutora, que denota um prazer enorme pela experimentação da linguagem. E a propósito de linguagem, há duas peculiaridades que saltam logo à vista do leitor. A primeira é o gosto pela enumeração. O texto de Fry está cheio de inventários que servem para sublinhar e enfatizar os seus pontos de vista. A segunda peculiaridade é a apetência pelos faits divers. Fry adora divagar e fugir ao cerne da questão, mas sabe fazê-lo com talento. Longe de aborrecer o leitor, todos esses detalhes aparentemente irrelevantes tornam a sua leitura mais ligeira e aprazível - um pouco como o viajante que, antes de chegar ao destino, se detém junto dos pormenores encantadores que encontra ao longo do caminho.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Zack and Miri Make a Porno
O filme Zack and Miri Make a Porno (2008) é uma desilusão. O assunto é a produção de um filme pornográfico caseiro, mas a maior obscenidade de todas é a escrita do argumentista e realizador Kevin Smith. O senhor escreve com a subtileza de um bulldozer. Os seus diálogos são aborrecidos e banalíssimos; não basta encher um guião de palavrões para se fazer um filme espirituoso. Mas o Smith não é apenas gratuito, também é preguiçoso: não fez o trabalho de casa e, manifestamente, pouco ou nada sabe sobre a indústria porno e as pessoas que nela trabalham – ou sobre pessoas, pura e simplesmente.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Adolf Hitler
O nazismo também teve coisas boas. Os progressos promovidos pelo Terceiro Reich na ciência e tecnologia revolucionaram o mundo e ainda hoje são sentidos. A tecnologia usada nos V-1 e V-2 acabaria por colocar o homem na lua. No domínio social, uma grande percentagem de alemães vivia bem. Adolf Hitler restaurou a economia falida em menos de cinco anos, fundou escolas profissionalizantes para os que não possuíam qualificações e acabou com o desemprego. O Partido de Hitler também proporcionou às massas ocupações que até então eram privilégio de uma elite restrita: desporto, artes e teatro. O gozo de férias através do movimento Kraft durch Freude inspirou iniciativas semelhantes que, ainda hoje, beneficiam milhões de pessoas.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
terça-feira, 2 de junho de 2009
The Strangers
O filme The Strangers (2008), com a linda Liv Tyler, está a passar despercebido nas salas de cinema. Há muita gente que diz que não gosta, porque supostamente não tem história e é apenas o registo cinematográfico de um massacre. Isto até nem é grande novidade, já que quase todos os filmes de terror seguem normalmente o mesmo destino. Porém, esta reacção é completamente injustificada e demonstra algum desconhecimento do que é o género de terror. Tal como as tragédias gregas, os filmes de terror repisam sempre as mesmas histórias e personagens, porque são puros exercícios de estilo. Um filme destes não tem que se preocupar com grandes originalidades ou enredos complexos, mas apenas em usar a gramática cinematográfica da forma mais eficaz possível. Saber usar montagem, mise en scène, efeitos especiais para nos assustar de morte, aí é que está o mérito de The Strangers e todos os bons filmes de terror.
domingo, 3 de maio de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Berlin Tegel
No aeroporto de Tegel, em Berlim, um casal gay beija-se sem o risco de levar com uma pedra. É bonito.
terça-feira, 31 de março de 2009
Gran Torino
segunda-feira, 23 de março de 2009
Aliens
As sequelas cinematográficas são uma faca de dois gumes. Elas podem parecer um investimento seguro aos olhos dos produtores, mas, porque as expectativas do público estão mais elevadas, raramente conseguem igualar os filmes originais e acabam por ser uma desilusão. Uma excepção notável foi Aliens (1986), de James Cameron. O filme não só igualou como terá até suplantado o primeiro Alien de Ridley Scott. Cameron conseguiu juntar o melhor de dois mundos: foi arrojado e original ao combinar os cinemas de acção e ficção científica; mas essa mesma dissolução de géneros permitiu-lhe também ser fiel ao espírito do filme original - também ele uma mistura insólita de géneros - e conquistar a aceitação imediata dos fãs.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
domingo, 25 de janeiro de 2009
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