sábado, 12 de junho de 2010

Cat on a Hot Tin Roof

Estou convencido que o verdadeiro assunto do filme Cat on a Hot Tin Roof (1958) é a disfunção eréctil do protagonista. Toda a história gira em redor da picha mole de Brick (Paul Newman) e só isso explica o seu comportamento errático. Senão, vejamos: a) Brick está severamente deprimido e evita todo o contacto sexual com Maggie (Elizabeth Taylor); b) Maggie chega mesmo a dizer-lhe 'you were such a wonderful lover'; c) Maggie consultou o ginecologista e este disse que ela é saudável e pode ter filhos; d) A sogra arguta afirma que todos os problemas conjugais começam na cama. Por tudo isto, a escaldante sequência final representa a vitória do protagonista sobre os seus problemas de ansiedade e incapacidade sexual.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Foreign Affair

A diva Marlene Dietrich interpreta no filme A Foreign Affair (1948), de Billy Wilder, a personagem mais interessante da sua carreira. Erika von Schluetow é fascinante pela sua ambiguidade moral: ela rouba, engana, dissimula e mente com todos os dentes que tem, mas não se pode dizer que seja uma pessoa má ou que deva ser censurada pelos seus actos. A responsabilidade moral pressupõe sempre uma liberdade de escolha e, no caso de Schluetow, não restam muitas opções. Ela vive no meio de uma cidade completamente destruída pela guerra. Não há dinheiro, a fome prolifera e a propaganda oficial recomenda que as pessoas comam cardos, dálias e ervas daninhas para enganar a fome. Erst kommt das Fressen, dann die Moral. Quando a barriga está vazia, a única obrigação moral que sobra é fazer pela vida e não olhar a meios para fugir à miséria.

sábado, 8 de maio de 2010

Iron Man 2

A sequela de Iron Man frustrou todas as expectativas. O filme brilha em alguns momentos fugazes, mas as tiradas engraçadas, os excelentes efeitos especiais e a química Downey Jr. - Paltrow não são suficientes para salvar um argumento daqueles. Iron Man 2 (2010) está cheio de buracos, inconsistências e saídas fáceis. Um exemplo expressivo é a péssima sequência do interrogatório perante a comissão parlamentar: basta ao Tony Stark premir um botão e, num passe de mágica, todos os problemas se resolvem para o herói. Nada de engenho, nada de inteligência. Se restam dúvidas, comparemos esta porcaria com a memorável sequência do leilão em Intriga Internacional, de Alfred Hitchcock, ou com o duelo de artimanhas do primeiro Die Hard para ver as diferenças.

sábado, 3 de abril de 2010

Coisas que nunca falham nos filmes:

Animais (Pierrot Le Fou)

Ironia dramática (Irréversible, Das Leben der Anderen)

Beijo na boca (Spider-Man)

Travestis (Some Like it Hot)

Briga de gajas (All About Eve, Kill Bill)

Crianças (Bedhead)

Tarte atirada à cara (Travis Sing)

Conspiração (The Conversation)

sexta-feira, 26 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Shutter Island

Imaginemos um tribunal do cinema. E imaginemos que o Martin Scorsese é inquirido pelo colectivo de juízes e tem de defender Shutter Island (2010). A tese do filme é absurda e inverosímil mas Scorsese saberia defendê-la com eficácia. O realizador começaria por citar o Mestre Alfred Hitchcock e diria que nenhuma obra de ficção é inteiramente verosímil. Além disso, diria que a grande virtude deste extraordinário filme está precisamente aí: em esticar a verosimilhança até ao limite do possível e conseguir, apesar de todas as incongruências, envolver e iludir o espectador. Um pouco como Joe Pesci fez com Ray Liotta naquela sequência sublime de Goodfellas, a melhor coisa que Scorsese filmou até hoje.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Le Chagrin et la Pitié

Le Chagrin et la Pitié (1969), de Marcel Ophüls, é um documentário polémico, talvez o mais controverso que alguma vez foi feito sobre a Segunda Guerra Mundial. O filme descreve o quotidiano de uma localidade da França durante a ocupação nazi e aborda algumas questões que muitos franceses gostariam de ver esquecidas: o colaboracionismo, o anti-semitismo e os julgamentos sumários após a libertação. Ophüls aborda tudo isto com grande objectividade e sem preconceitos de qualquer espécie. Alemães e franceses, resistentes e colaboracionistas, todos têm igual oportunidade de falar e expor as suas razões. Porém, a objectividade não implica a total ausência de espírito crítico. Bem pelo contrário, o realizador afirma várias vezes a sua repulsa pelos crimes do regime de Vichy - por exemplo, quando confronta o genro de Laval com a realidade dos números da deportação. É este juste milieu entre rigor histórico e juízo crítico, entre serenidade e indignação, que faz de Le Chagrin et la Pitié uma obra tão notável, inteligente e especial.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

The Oxford Murders

The Oxford Murders (2008), de Álex de la Iglesia, começa numa sala de aulas. É um começo apropriado, não só porque professores e cineastas têm muito em comum (o primeiro objectivo de ambas as profissões é cativar a atenção do público), mas também porque as qualidades pedagógicas de Álex de la Iglesia são bem conhecidas. Os seus filmes são claros, concisos e sedutores, tal como as boas aulas. Mas até os melhores mestres têm dias menos bons e a lição de The Oxford Murders não estava bem preparada. Falta ambição, estofo e profundidade ao filme, tudo é desgarrado e superficial. Isto é estranho, porque a pesquisa minuciosa e a atenção aos pormenores sempre foram os pontos fortes do cineasta espanhol (será ele um genuíno obsessivo compulsivo?). Mas se é verdade que as pessoas nunca mudam, vamos esperar que o realizador de Perdita Durango e El Día de la Bestia regresse à sua melhor forma.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Nine

Nine (2009), com o inteligente Daniel Day-Lewis, é um nado morto. A intenção original é prestar homenagem ao cinema italiano, mas o filme não tem nada de especial a dizer sobre o assunto. Mesmo que tivesse alguma coisa para dizer, não teria tido importância nenhuma porque já ninguém dá um traque pelos filmes italianos. Claro que nada disto seria grave, porque Nine é um musical e os musicais são notáveis pela sua plasticidade. Todos os excessos e devaneios são permitidos nos musicais, desde que a música seja boa. O problema é que, também musicalmente, o filme de Rob Marshall é uma grande merda.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Paranormal Activity


Paranormal Activity (2009) agarra o público e não o larga mais. O filme lança o seu feitiço e deixa o espectador com uma sensação de inquietude que perdura muito para além da sessão de cinema. Não precisa para isso de grandes efeitos especiais ou novidades surpreendentes, basta-lhe um guião que segue à risca a regra fundamental da verosimilhança. A história é verosímil, ainda que o assunto seja uma possessão demoníaca: talvez nunca tenhamos encontrado um demónio, mas todos nos identificamos com o casal jovem, o ambiente doméstico e o medo do escuro. Por isso, o nosso envolvimento emocional é tão grande. Mais do que uma mera relação de simpatia, há uma verdadeira empatia com os protagonistas: identificamo-nos com eles, sofremos com eles e, no final, lamentamos todo o mal que lhes acontece.

domingo, 3 de janeiro de 2010