segunda-feira, 7 de julho de 2008

Portugal

Não há nada mais português que a cunha. A cunha consiste na recomendação de uma pessoa influente e está profundamente entranhada nas mentalidades e nos hábitos dos portugueses. No nosso país, não é possível fazer o que quer que seja sem ela. Não se consegue arranjar um emprego decente, ganhar um concurso público ou obter colocação na faculdade de medicina sem meter uma cunha; o mérito individual conta pouco ou quase nada. Isto demonstra que o pensamento moral predominante entre nós é o da parcialidade. A generalidade dos portugueses supõe que a moralidade começa com os deveres com amigos, familiares e colegas e mais do que isso não é necessário. Porém, um raciocínio moral destes é insuficiente. Para realmente sermos pessoas decentes, devemos procurar ser imparciais, porque o bem-estar de cada pessoa é igualmente importante e todos são igualmente dignos de respeito.

A mentalidade dos nossos empresários é um caso flagrante de parcialidade. Ao contrário do que ocorre na maioria das economias de mercado do mundo, nas grandes empresas portuguesas é o princípio da cunha que rege a gestão e transmissão de poder. Enquanto que normalmente as direcções e os dirigentes dos grandes grupos internacionais são escolhidos segundo o mérito dos candidatos, em Portugal o que conta quase sempre é a sua origem e o seu apelido. A continuidade das empresas familiares é um objectivo abertamente assumido pelas famílias abastadas, que constituem as elites económicas, sociais e por vezes também políticas de Lisboa e Porto. Partilham interesses, ideais e modos de comportamento. E formam uma rede estreita de interesses, que dificulta o acesso do exterior.

2 comentários:

Freitas disse...

Não é a cunha mas sim o Q.I. (Quem Indicou)

Statler & Waldorf disse...

Pedem para não fugirmos para o estrangeiro, que tenhamos muitos filhos e nos envolvamos mais na sociedade. Pedem-nos paternalmente que acreditemos no Portugal que aí vem, que façamos parte dele. Agora, e sem grande dramatismo, como posso eu acreditar nos mesmos gajos que distribuem cargos e vagas a torto e a direito aos filhos da terra ou do partido. Nos mesmos gajos que esbanjam o meu dinheiro com submarinos, TGV, e outros elefantes brancos. E cuja maior preocupação é a sua própria perpetuação. Cada vez que alguém menos competente é contratado é todo o país que perde.

PS: Não querem abrir mão dos tachos e depois queixam-se que é sempre arroz de atum para o jantar.

Waldorf